"Impressões": TUCANAS

Mais uma estreia em discos que nos chegaram para podermos dar mais uma das nossas “impressões”, desta feita, às TUCANAS e ao álbum “Maria Café”. Elas são actualmente um quinteto feminino de percussões já com alguns anos de estrada e que resolveram (finalmente) gravar e mostrar um pouco do que fazem nos concertos ao vivo desde 2001. E digo um pouco, porque acho que é bastante difícil transmitir para disco o tipo de trabalho artístico que fazem.
A ideia principal que retiro deste álbum é que estamos perante um projecto bem pensado nas 16 faixas áudio presentes e mais uma, que é extra, em formato multimédia. Produzido caseiramente e por Carlos Miguel, é de notar a presença em todo o lado, onde se respire TUCANAS, de um dos melhores percussionistas portugueses, o Rui Júnior - mentor dos TOCÁ RUFAR e de outros projectos (talvez das próprias meninas?!) e que acaba também por ter intervenção directa numa das faixas “Mãos de Calor”. E já que estamos a falar de convidados especiais, também há que referir a participação dos KUMPANIA ALGAZARRA (que acabaram também de se estrear em disco e que farei uma “impressão” mais tarde) no tema “Peruano” e, ainda, de AMÉLIA MUGE na faixa “Molhar o Pé”. E acreditem, se não fosse por mais nada, já valia a pena adquirir o “Maria Café” … mas não… vale a pena comprá-lo porque, como dizia atrás, estamos perante um trabalho coerente na escolha das músicas e dos arranjos e, sobretudo, na oportunidade que nos dão de ouvir os sempre frenéticos ritmos africanos balanceados ao sabor de um toque feminino português. É, no fundo, um grupo que apresenta no cd, o possível do estilo stomp que é assumido e que é bem feito na difícil combinação que fazem da percussão, do movimento e do efeito visual que, no mínimo, imaginamos.
Acredito, no entanto, que o melhor das TUCANAS é o vivo e, por isso, há uma relativa decepção na escuta porque, depois de ouvir o cd, apetece-nos conhecê-las ao vivo. Felizmente já tive a sorte.
Quanto à parte técnica, todas as TUCANAS são exímias percussionistas e apresentam uma panóplia de instrumentos percussivos tão diferentes como o surdo, as cabaças, as bilhas, as caixas ou mesmo os bidões. Os característicos kazoos também tiveram uma entrada final. Quanto às letras - são algumas em “tucanês” mas a maioria assinadas pela tucana Sara Jónatas - dão um belo toque de classe ao álbum. A entrada recente do acordeão também veio ainda dar mais melodia às faixas que podiam em demasia, porventura, cansar alguns ouvintes.
As TUCANAS são Ana Gonçalves, Catarina Ribeiro, Mónica Rocha e Sara Jónatas (nas percussões e vozes) e Marina Henriques (no acordeão e voz), apesar das ex-tucanas Xana Abreu e Joana Machado, José Salgueiro e Carlos Miguel terem tido uma palavra a dizer.
Gravado no “Vale de Lobos” de RUI VELOSO pelo técnico residente Rui Guerreiro, não há nada a dizer do trabalho técnico de som ainda mais que, quando estamos a falar de acústicos e mais, destes tipos de instrumentos, a tarefa nunca é fácil. A masterização foi feita na suíça e com sinal mais. Grafismo bastante interessante com um bom papel apesar da habitual caixa plástica. Inconfundível! Edição Farol/Spot, 2007. (8/10)

André Moutinho